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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Sem título

Carrego em um só dedo o peso do enfado,
os outros - dedos - estão reservados
para outros pesos e
outras medidas.

O sol tímido que toca minha face
o poema solitário
- ou, quem sabe, solitária é somente a poetisa -
que seguro nas mãos
enchem-nas,
mas nos dedos não sinto pressão;
Não pesam nem sobrecarregam
o coração.

Concentrada
tento ignorar tudo que não seja
o barulho dos pássaros
e a placidez da manhã.
Nada mais deve penetrar
minha doce neblina,
meu sublime torpor.
As vozes - quase - humanas,
o roncar das máquinas,
o zumbido da contemporaneidade -
Ora, eles não entendem
que o morno do sol e
a poesia que seguro nas mãos
são as únicas coisas reais do universo.
O resto não passam de imagens desfocadas
atrás do véu da minha neblina;
o resto é apenas peso nos meus dedos,
como anéis de muitos quilates,
frios e duros.

O resto
- tangível -
agrega volume,
mas não significado.

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